Padedê ia sair mais cedo do trabalho aquele dia. Disse aos amigos que estava muito tenso e que ia dar uma relaxada numa sauna, no centro da cidade. Foi aí que o pessoal da repartição fez, em coro, o alerta evidente:
-Mas Padedê! Você tá ficando louco, meu filho? Essas saunas do centro são antros da pederastia! Só dá viado!
-Que nada! Fica tranquilo que eu me viro. Até parece que vocês não me conhecem. Credo...
Pegou seu chevette marrom três volumes apressadamente e partiu rumo à tão sonhada sauna no centro.
Lá chegando, foi atendido por um rapaz que mostrou a ele o vestiário. Foi logo se estabelecendo por ali. Tirou a roupa toda, menos os óculos ray-ban empenados, e foi para a sauna. Isso mesmo: foi para a sauna nu e de óculos escuros.
Sentou-se no degrau mais alto da sauna e recostou a cabeça na parede azulejada, como se tirasse um cochilo. Até então, Padedê era o único freguês.
Eis que entra pela sauna mais um cliente, também nu. Apesar da abundância de lugares disponíveis, escolheu sentar-se bem próximo de Padedê. Fitou, por alguns segundos, aquela figura bizarra que parecia estar dormindo na sauna, pelado e de óculos escuros. Terminada a averiguação, o franzino moço tentou puxar, com voz bastante sutil, uma conversa:
-Oi! Tudo bem?
Padedê não respondeu.
O rapaz então tentou novamente: -Você vem sempre aqui?
Não adiantava. Padedê parecia hibernar por detrás daqueles óculos ridículos e tortos.
Mas o rapaz não desistia, não. E tentou mais uma vez: -Está quente aqui, né? Entrei há pouco e meu corpo já está todo suado!
Nada causava uma reação em Padedê, até que o rapaz arriscou numa última e corajosa tentativa:
-Posso dar uma chupadinha?
Padedê então, sem se mover ou mudar o semblante, respondeu:
-Pode.
Um comentário:
Fredinho, acho que vc deveria organizar e também criar histórias das aventuras de Padedê, pois ele já está se tornando um herói no mais belo estilo "Macunaíma". Digno de inspirar roteiros de dramuturgia.
Leo Leite
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