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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil

10 de novembro de 2005

ALMA GÊMEA É O K...

MINI TRAGICOMÉDIA DE COSTUMES EM 5 ATOS

PRIMEIRO DIA

(Alberico está sentado na mesa do bar tomando um chope com a cara mais feliz do mundo quando chega o seu bom e velho amigo Coutinho).

Coutinho – Fala, meu ídolo!

Alberico – Grande Coutinho! Senta aí logo e toma um chope comigo pra comemorar...

Coutinho – É, nego! Tô vendo mesmo que cê tá com uma cara ótima. (Pede um chope). Anda. Desembucha, meu filho! Estamos comemorando o quê? Pode soltar a bomba...

Alberico – Coutinho, o negócio é o seguinte: conheci a mulher da minha vida! Tô querendo me casar.

Coutinho (exaltado) – Que brincadeira é essa, Alberico? Não brinca com assunto sério não!

Alberico – É sério, Coutinho. O pior é que é sério. Aliás, nunca falei tão sério na minha vida!

Coutinho – Você pirou, Alberico? Pirou de vez? Você é o nosso ídolo! O ídolo da turma toda exatamente porque nunca caiu nessa cilada de se apaixonar por mulher nenhuma. Vive por aí cada dia com uma mulher diferente, uma mais gostosa que a outra...

Alberico – Eu sei, Coutinho, eu sei. Mas agora isso vai acabar. Eu mesmo tô assustado, rapaz. Cada segundo que eu passo longe da Cacau eu tenho a impressão que tô perdendo meu tempo.

Coutinho – Isso passa, homem de deus! Isso passa! Eu já caí nessa, o Júlio já caiu nessa. Todo mundo já caiu, menos você Alberico! Você não! Você é a redenção da nossa turma toda! Todo mundo queria levar a vida que você leva, mas a gente não pode mais: já fizemos a burrada e agora não tem volta. A gente morre de inveja da vida que você leva e você vem me dizer que tá apaixonado? Tenha a santa paciência!

Alberico – Você não tá entendendo, Coutinho. Não tem como fugir, cara. Está escrito, é destino, sei lá. Só sei que a Cacau é a minha alma gêmea.

SEGUNDO DIA

(Um mês depois: Os dois estão sentados no mesmo bar, bebendo e conversando.)

Coutinho – Agora me esclarece uma coisa aqui, Alberico: Você ainda continua insistindo naquele papo besta de alma gêmea?

Alberico – Besta nada, Coutinho! Besta nada! Você precisa conhecer a Cacau pra entender o que eu tô falando. A gente vai se casar.

Coutinho (preocupado) – Alberico, pelo amor de deus escuta aqui o seu amigo! Não cai nessa não, mestre. É fria! Casamento é fria!

Alberico – A gente se ama, Coutinho! Entende uma coisa: a gente não agüenta ficar um segundo longe um do outro. Eu não escolhi isso. Simplesmente aconteceu, cara!

Coutinho (exaltado) – Como assim aconteceu, Bericão? Como assim?

Alberico (extasiado) – Ela é toda linda! É perfeita! Você tem que ver. Só anda de sandalinha baixa, pé no chão, e lava a cabeça com sabão de coco... De uma simplicidade que só vendo! E olha que tem só 18 aninhos...

Coutinho (indignado) – 18 anos? 18 anos? Você vai se casar com uma criança? Cê tá maluco, Alberico?

Alberico – Calma, Coutinho. Calma, rapaz. Deixa eu te contar, pô. Ela tem só 18, mas parece mais. Ela é uma mulher madura, cara. Não é igual essas menininhas que tem por aí não. Super culta, interessada. Ouve o Guinga, cara! Ela simplesmente a-do-ra o som do Guinga...

Coutinho – Som de quem?

Alberico – Guinga, porra. Um dos maiores gênios desse país, pô. Tá vendo, Coutinho? É esse tipo de ignorância que eu não agüento mais, e é por isso que a Cacau é diferente...

Coutinho – Porra, Bericão, não precisa ofender, cara.

Alberico – Foi mal, cara. Foi mal. É que eu fico empolgado quando falo da Cacau.

Coutinho – E você vai se casar com uma criança que não sabe nada da vida só por causa desse tal de Ginga?

Alberico (impaciente) – Guinga, Coutinho. Guinga.

TERCEIRO DIA

(Coutinho sentado na mesa do bar tomando um café. Alberico chega distraído, derrubando a xícara).

Coutinho – Que é isso, Alberico? Tá no mundo da lua?

Alberico – Na lua não, irmão, eu tô é no céu!

Coutinho Tá no céu por que, filhão? Conta logo! Quer matar seu amigo de curiosidade?

Alberico (em êxtase) – É a Cacau. Nossa, nem te conto...

Coutinho (exaltado) – Como “nem te conto?” Conta sim, uai. Sou todo ouvidos!

Alberico Tô acabando de chegar do motel. Passei a noite lá com a Cacau.

Coutinho – Mas e daí?

Alberico – E daí que eu tô completamente transtornado, Coutinho. Tô até com medo de mim, sentindo um aperto no peito igual eu nunca senti antes. Agora eu tenho certeza que ela é minha alma gêmea.

Coutinho – Ai, ai, ai... Lá vem você de novo com esse papinho... O que é que foi dessa vez?

Alberico – Alberico, você não imagina o que é a Cacau na cama. Eu tremo só de pensar! A mulher é um espetáculo!

Coutinho – Agora você tá falando a minha língua, rapaz! Anda! Conta tudo. Tudinho mesmo. Quero riqueza de detalhes!

Alberico – Então lá vai: pra começar, você não faz idéia do que é o corpo dessa menina! Um metro e setenta de altura, barriguinha sarada, com direito a piercing no umbigo.(Coutinho começa a uivar, animado).

Coutinho (salivando) – E a peitaria? Como que é a peitaria?

Alberico – O peito dela é a coisa mais gostosa desse mundo. Tamanho ótimo, quase grande demais, tipo os peitos da D. Natália. Lembra da Natália, mãe do Dirceuzinho?

Coutinho – Se lembro! Duas turbinas maravilhosas!

Alberico – E tem sempre uma marquinha de biquíni que é um negócio! E o melhor: empinadinhos, com os biquinhos rosadinhos sempre apontando pro ventilador de teto!

Coutinho – Agora essa sua paixão tá começando a fazer sentido. Agora sim! Esse é o Alberico que eu conheço!

QUARTO DIA

(Coutinho chega à mesa do bar e saúda Alberico).

Coutinho – E aí, meu ídolo! Continuas rasgando a menininha?

Alberico – Opa! Mais respeito aí, hein, Coutinho?

Coutinho – Calma. Tô brincando, sô. Mas fala aí... Abre o jogo...

Alberico – Pra te falar a verdade, eu já nem sei mais quem tá pegando quem...

Coutinho (curioso) – Como assim? Explica isso aí, uai!

Alberico – É que a Cacau tá cada dia melhor na cama, Coutinho, uma coisa inacreditável. Uma desenvoltura, um repertório de posições, cada uma mais acrobática que a outra!

Coutinho (batendo nas costas do amigo) – Você é mesmo um garimpeiro, hein, Bericão? Sempre encontra essas pedras preciosas por aí... Carne nova, gostosa e ninfomaníaca! É por isso que você é o nosso ídolo! Tu é um cara diferenciado, meu irmão! Que fase! Que fase!

Alberico (desanimado) – É, mas só que...

Coutinho – Só que o quê? Anda! Desembucha!

Alberico – Só que eu ando meio desconfiado, sabe Coutinho?

Coutinho – Por que, cara? Desconfiado de quê?

Alberico – Por exemplo: fico pensando onde é que a Cacau tá aprendendo essas posições novas, esse repertório sexual dela...

Coutinho – Ah não! Deixa de ser careta! Hoje em dia se aprende isso em tudo que é lugar. Na tv a cabo tem uns programas que só falam nisso. Sem falar nos livros, na internet, até na escola, viu? Até na escola!

Alberico – Outro dia, no motel, no meio do ato, ela me chamou de um nome estranho...

Coutinho – Que nome?

Alberico Mandioca.

Coutinho – Mandioca?

Alberico (envergonhado) – É...Mandioca...

QUINTO DIA

(Coutinho chega animado à mesa do bar. Alberico pensativo).

Coutinho – Se não é o meu grande amigo Mandioca.

Alberico – Não pisa, Coutinho. Não pisa que eu tô sofrendo. Tô sofrendo horrores...

Coutinho – E desde quando meu ídolo sofre? Tá sofrendo por quê?

Alberico – A Cacau. Me deu um pé na bunda.

Coutinho – Tá falando sério? Que é que aconteceu, homem de deus?

Alberico – Por e-mail, dá pra acreditar? A minha alma gêmea, a única mulher que me tirou do sério a minha vida inteira terminou comigo pela internet. Mandou um e-mail falando que tinha conhecido outro cara e que tava indo embora pra morar com ele em Jericoacoara.

Coutinho – Ele quem? Quem é o cara, Bericão? Tu já sabe?

Alberico – Sei: o Mandioca.

Coutinho – Mandioca?

Alberico – É. Mandioca.

Coutinho – Mandioca???

Alberico – Mandioca.

Coutinho – E por quê o apelido do cara é Mandioca, meu irmão?

Alberico – Porra, Coutinho, que crueldade, cara. E precisa perguntar? Tá na cara, pô.

Coutinho – É. Se bem que é mesmo. Mandioca só pode ser uma coisa... Tá mais que óbvio.

Alberico – Pois é.

Coutinho – E você tá muito mal? Precisando de alguma coisa é só falar!

Alberico – Tô mal, cara, claro! Minha alma gêmea tá numa praia paradisíaca com um cara que chama Mandioca. Você queria o que?

Coutinho – Mudando de assunto, Bericão. Dá só uma olhada na mulata que acabou de entrar...

Alberico – Nossa senhora! Que ferramenta, hein, Coutinho? Que espetáculo! Peraí que eu vou lá nela. Em branco é que eu não posso deixar passar!

Coutinho – Uai, Bericão? Mas já? E aquele papo de alma gêmea pra lá, alma gêmea pra cá? A defunta ainda nem esfriou, pô...

Alberico – Ah, quer saber Coutinho? ALMA GÊMEA É O CARALHO!!!



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