Um dos principais problemas do PT, concordo, foi ter feito
alianças malditas com gente do naipe de Renan Calheiros em nome da
governabilidade. No sistema político brasileiro, o Presidente precisa de
maioria na Câmara para governar, para aprovar as medidas que considera
importantes. O Presidente não tem como governar sozinho (só fazendo um AI-5 de
novo e fechando o Congresso, coisa que alguns Bolsonaros adorariam).
Com o atual sistema eleitoral, com financiamento privado de
campanhas, nossos deputados se elegem graças à injeção, em suas campanhas, de dinheiro
de empresas privadas, de maneira que chegam ao Congresso Nacional não como
representantes dos eleitores, mas como jagunços a serviço daqueles que
investiram em suas campanhas. É um negócio: você investe no político, elege-o,
e depois vai atrás dele exigir seu lucro.
Infelizmente não há, entre presidência e Congresso, um
debate de ideias, de programas políticos. O que nossos congressistas querem é o
toma lá da cá. Ninguém vai me convencer que o Congresso aprova alguma medida
por considerar que “vai ser bom para o Brasil”. Isso, lamentavelmente, é viver
num mundo de fantasia.
FHC foi acusado de comprar votos pra aprovar a reeleição. O PT
foi acusado (e condenado) na Ação Penal 470. Isso porque há essa crise de
representação num Congresso onde o debate é impossível, a não ser nos termos do
toma lá da cá. SEJA QUEM FOR O PRESIDENTE, enquanto a situação no Congresso for
essa, só governa no BRASIL REAL quem tiver estômago pra apertar a mão de Temer
e Renan.
Quando a Dilma falou em plebiscito pra fazer essa necessária
reforma política, entretanto, todo mundo chiou. Lembra? Era justamente uma
tentativa de usar o momento político das manifestações de insatisfação popular
pra promover reformas importantes para o país.
E dentro desse contexto de conchavos escusos pra garantir
poder político e eventual maioria no Congresso, o Eduardo Campos e a Marina
apenas representam mais do mesmo, uma vez que, foi só saírem do “campo das
ideias” e entrarem na POLÍTICA REAL, que se viram obrigados a negociar com
gente do naipe de Caiado, Bornhausen e Heráclito Fortes. Se Marina e Campos não
se alinharem a essa gente, não aprovam nada. Não governam. Ou seja, MAIS DO
MESMO.
Ainda prefiro a Dilma e o PT por considerar que tentam,
apesar desse contexto todo, fazer um governo voltado primeiramente à população
mais necessitada. Com todas as dificuldades, trata-se de um governo que em
pouco mais de 10 anos tirou 36 milhões de pessoas da pobreza extrema, diminuiu
radicalmente o desemprego, incluiu milhões de brasileiros na economia formal,
valorizou o salário mínimo, consolidou as políticas de cotas sociais nas
universidades públicas, conferiu mais direitos a trabalhadores domésticos, dentre
outras conquistas importantes.
Minha tristeza é ver que a nossa antiga classe média não se
empolga com essas conquistas e a ascensão das classes mais baixas. Pelo
contrário: se sente enfraquecida pela perda de privilégios. O patrão se irrita
ao ver que seu funcionário agora tem condição de comprar um carro: “Devo estar
pagando um salário muito alto”. A professora universitária se sente ultrajada
pela “perda de glamour” nos aeroportos, depois que voar de avião deixou de ser
exclusividade de gente rica. O aumento do poder aquisitivo de brasileiro não a
deixa feliz. Ela sente falta de uma época em que pouca gente tinha acesso aos
aeroportos, e ela podia exibir suas viagens de avião como símbolo de status. O mesmo status que move o Rei do Camarote.
(
http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/professora-da-puc-ironiza-passageiro-de-aviao-e-ganha-pagina)
No episódio da PEC 72, a madame dona
de casa achou um absurdo a legislação que iguala os direitos trabalhistas da
empregada que lava o banheiro dela aos direitos dos outros trabalhadores.
500 anos de injustiça social não vão ser resolvidos em 10
anos de governo, nem em 20. Muita coisa precisa melhorar, sempre. Mas considero
que os governos do PT têm feito o possível pra melhorar a vida de quem mais precisa.
Ainda não é o ideal, mas é disparado o melhor que temos dentro da atual
conjuntura. E felizmente o povo sabe disso.