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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil

16 de março de 2006

PARA SEMPRE PETER PAN

"Ora, se não sou eu
quem mais vai decidir
o que é bom pra mim?
Dispenso a previsão!

Se o que eu sou
é tambem o que eu escolhi ser,
aceito a condição!"
(Rodrigo Amarante
)

Não gostei de ser adulto. Chato demais. Pode parecer clichê, e talvez seja mesmo, mas tenho saudade de ser criança. Ao contrário do que se possa imaginar, na passagem da infância para a vida adulta não há evolução. A verdade é que se perde muito mais do que se ganha. Tornamo-nos cada vez mais burros, automatizados, aceitamos cada vez mais a rotina a medida em que vamos deixando de lado a contemplação ingênua e a curiosidade intrínseca da criança.

O adulto acorda todo dia na mesma hora, vai pro seu trabalho e fica lá o dia inteiro repetindo à exaustão suas tarefas. Seja assinando papéis, pagando contas ou carimbando vias, ele passará o dia fazendo exatamente as mesmas coisas que fez no dia anterior. Até que chega um dia em que trabalhar é como dirigir um carro, ou seja, uma tarefa totalmente automática que sequer exige dele alguma atenção. Pior ainda é o momento em que essa postura desatenta extrapola o ambiente de trabalho e atinge a vida de maneira mais geral. É justamente nessa hora que faz falta o exemplo da infância.

Sinto falta dessa criança, de não conhecer como conheço hoje a imperfeição do ser humano. A maldade daquele que tortura, a corrupção, a inacreditável ganância dos homens que se matam não por um prato de comida, mas por mais um milhão para colocar na já gorda conta bancária.

A criança está sempre conhecendo o mundo. Quase tudo é novidade. Para ela não há verdades absolutas, e por isso ela está sempre questionando. É difícil separar na mente infantil os conceitos de real ou irreal, fato ou sonho. Lembro-me claramente de dúvidas ingênuas que tive na infância. Achava por exemplo que ladrões, bruxas e vampiros faziam parte do mesmo grupo de seres fantasiosos que só existiam em histórias fabulosas. Quando descobri que os ladrões existiam de fato fiquei apavorado por achar que, portanto, também seriam reais as bruxas e os vampiros.

Como não há como voltar no tempo, ou ser criança para sempre, como Peter Pan, o que me resta é tentar pensar com a cabeça do menino que um dia eu fui. Destruir todas as verdades absolutas que, ao longo dos anos, foram colocando na minha cabeça: que só posso ser feliz desse jeito ou daquele, que tenho que arrumar um trabalho assim ou assado, que tenho que usar aquela roupa da moda, que tenho que me casar com aquela moça de “boa família”.

Vou fazer como uma criança que está conhecendo agora o mundo, sem saber ao certo o que é verdade e o que é mentira. Questionando um por um esses dogmas estabelecidos pela hipocrisia e tabus construídos na mediocridade vou ser mais capaz de saber o que é bom pra mim. A vida é curta demais pra eu perder meu tempo seguindo um caminho que foi traçado por outros. Assim como Peter Pan, vou lutar para escapar do tic-tac sem fim do relógio na barriga do crocodilo. Não quero ser, de jeito nenhum, um adulto chato que senta no restaurante caro da moda com seu terno cinza enquanto vomita o jargão dos “bem sucedidos”. Vou procurar o meu próprio caminho. Vou fazer do meu jeito. E se eu errar, que seja um erro meu.

9 comentários:

Brena Braz disse...

Pára tudo que eu quero descer!
Fred, como assim que eu não conhecia esses textos maravilhosos antes? Como assim que você é arquiteto e não escritor? Como assim???
Gostei demais do que li aqui. Adoro saber que existem mentes masculinas pensantes por aí...
Beijos

Anônimo disse...

Pode começar escolhendo um mote que ainda não foi extremamente escrito,como este. Um tema só seu...

Frederico Bernis disse...

Bom comentário. Só acho que seja um "mote" sobre o qual talvez valha a pena investir, mesmo que já tenha sido "extremamente escrito". No mais, espero que o anônimo se apresente da próxima vez, caso haja próxima vez.

Brena Braz disse...

Fred, trata de escrever mais... vim ver as novidades e nada... snif.
P.S.: Trate de me visitar mais vezes tb! rs

Anônimo disse...

Fred, que texto lindo...lindo!
Meu sonho è ver vce escrever um livro, e quando isso acontecer quero ser a primeira da fila pra receber um autografo seu!
Um beijo grande.

Anônimo disse...

Ei menino! Não sei se vc lembra de mim, sou a prima da Mariana Pimenta, tava em Londres..

Estava dando uma limpa nos meus scraps hoje e achei um antigo seu, lembrei do seu blog e vim aqui. Passei um tempão lendo seus escritos, vc realmente escreve muito bem! Agora, sobre esse do Peter Pan aí... ai, ai, concordo plenamente! Como eu queria voltar pra infância! Não sei se algum dia vou conseguir deixar de ser meio menina.. minha vontade é de ir pra Terra do Nunca e ficar pra sempre por lá!

Beijo pra você!

criscalina disse...
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criscalina disse...

eu sou um peter pan.
pra ser peter pan, basta ser.
é bom, só não dá é pra voar.
ninguém mais precisa ser não, só você.
comece fazendo perguntas óbvias, bem óbvias.
depois, você conta das suas coisas como se fossem as coisas mais inacontecíveis do mundo.
com o tempo você vai ser um peter pan, que nem você quer.
beijo,

handria disse...

muito bom


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